sexta-feira, 19 de março de 2010

Las mujeres del MÉXICO


Fronteira seca do México com os EUA e essa é a pior.
É uma cidade grande, 1,5 milhão de habitantes com um objetivo comum – atravessar a fronteira. Ninguém está ali por que quer, apenas porque ainda não conseguiu passar para o outro lado. Uma cerca de arame vigiada por viaturas e helicópteros americanos divide os dois países. No melhor estilo Tom & Jerry, escondidos atrás de arbustos, mexicanos esperam o melhor momento para dar o bote enquanto do outro lado, policiais tipo Charles Bronson se preparam para derrubar o próximo mexicano.
Juarez é uma cidade com semblante infeliz embaixo dos chapéus de cowboy “a la Brockback Mountain”. Uma cidade de derrotados que a todo instante enxerga do outro lado da cerca os edifícios enormes dos vitoriosos de El Paso, no Texas.
Nesse cenário confuso, uma nova mania tomou conta da cidade: feminicídio, ou seja, matança de mulheres.
Foram mais de trezentas assassinadas num período de um ano. Eram atacadas nas madrugadas, quando saiam de bares, boates ou quando iam para o trabalho antes do sol nascer. Logo eram encontradas mortas e estupradas em matagais.
As autoridades ao invés de tentar conter a matança, estimularam os criminosos, encobrindo pistas e prendendo inocentes. O prefeito afirmou que as mulheres que foram assassinadas mereceram morrer, porque se vestiam de forma provocante. Lançou uma campanha que dizia “Seja homem, cuide da sua mulher” e decretou toque de recolher na cidade, impedindo que os cidadãos circulem nas ruas depois das 23:00h. Lembrei da série de reportagens que fiz na fronteira do Brasil com o Paraguai ao lado de Rubens Valente sobre assassinatos em série. Assim como aqui, nenhum crime jamais foi sequer investigado, e se depender dos barões da fronteira, nunca será. Brasil e México são iguais em algumas coisas.
Encontramos Juanita numa casa na periferia de Juarez. Seu, olhar deixava claro que a história que ela iria contar não seria boa. Ela teve uma filha assassinada na cidade. “Pedi pra minha filha ir comprar pão e nunca mais a vi. Rezei muito para encontra-la viva mas já estava morta. Fui a policia dar queixa e eles disseram que eu e meu marido tínhamos matado a menina a pauladas e meu marido ficou preso. Parei de acreditar na Virgem de Guadalupe e não saio de casa desde então” disse com lágrimas de dor nos olhos.
Machismo vale mais que lei em Ciudad Juarez. Aqui pode tudo, desde que seja contra sua mulher. O que dizem pelas ruas, é que houveram assassinatos em série, mas que a maioria são crimes comuns inspirados pela impunidade e pela possibilidade de atribuir a autoria aos serial killers. Alguns afiirmam que muitas foram assassinadas e estupradas para se tornarem estrelas de filmes bizarros com assassinatos e estupros reais na internet.
Virou moda matar mulher. Tá infeliz, mata ela e põe na conta dos caras, diriam nos botecos os machos bigodudos entre goles de tequila, tortillas apimentadas e guacamole. Um psicólogo ajudaria a explicar porque na cidade dos derrotados gostam tanto de maltratar as mulheres.
Ninguém aqui tem esperança de que isso se resolva. O caso já fez muito barulho na mídia. Fizeram um filme em Hollywood sobre as mulheres de Juarez com a Jennifer Lopez e a Penélope Cruz e nem assim as autoridades se mexeram.
Juarez é um caso perdido, um fim de mundo onde uma cerca de arame farpado separa os vencedores dos perdedores.
Fronteiras são assim em todo lugar, alguém mata e basta atravessar uma rua para estar livre. Por elas passam drogas, contrabando, armas e tudo de podre que a corrupção pode comprar. Compõe o cenário perfeito para um mecanismo viciado que tem como base uma equação explosiva como dinamite. E pelas ruas empoeiradas das fronteiras, não faltam candidatos dispostos a acender o pavio.


Mauro Dahmer